Tanto em animais quanto em humanos, a coagulação sanguínea é um processo natural do organismo para estancar sangramentos e evitar hemorragias. Quando essa resposta falha, pode ser indicativo de alguma coagulopatia, ou seja, distúrbios da coagulação. Na medicina veterinária, as coagulopatias (hereditárias e adquiridas), são situações muito comuns no dia a dia de quem trata de pequenos animais¹.
Indicadores como fibrinogênio (FIB), tempo de Protrombina (TP), tempo de Coagulação Ativada (TCA), Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa) e tempo de Trombina (TT) são utilizados para identificar casos clínicos de coagulopatias. A metodologia point of care (POC) pode ser aplicada, oferecendo um diagnóstico rápido e impactando a agilidade do tratamento e do monitoramento terapêutico.
As deficiências no processo de coagulação são indicativos de uma série de doenças e casos clínicos graves. A formação do coágulo sanguíneo é chamada de hemostasia e sua deficiência, segundo o estudo feito pelo Centro Universitário CESMAC², pode causar hemorragias espontâneas ou excessivas que são bastante comuns em animais domésticos, mais especificamente em cães, e podem ser causados por trombocitopenia, problemas vasculares (como a vasculite), doença de Von Willebrand (DvW), trombose, deficiência de vitamina k, entre outras situações. Nos felinos, de acordo com a pesquisa, esses distúrbios são mais raros e podem estar relacionados a hepatopatias, peritonite infecciosa felina (PIF) ou neoplasias. Veja a seguir algumas dessas principais condições.
Trombocitose
Segundo um estudo da UFRGS³, o trombo pode ser primário ou secundário. O primário é caracterizado pelos distúrbios mieloproliferativos, como a leucemia megacarioblástica (que também pode causar trombocitopenia) e a trombocitose essencial (caracterizada por altas contagens plaquetárias, número aumentado de megacariócitos na medula óssea e nenhuma causa identificável de trombocitose reativa). Em gatos, a leucemia pode ser induzida pela infecção pelo vírus da leucemia felina.
Já no trombo secundário ou reativo, há aumento na contagem de plaquetas além do intervalo de referência. As causas de um trombo secundário podem ser fisiológicas, como ocorre na mobilização das plaquetas do baço e do pulmão induzida pelo exercício e pela adrenalina. O reativo e transitório pode ocorrer após terapia mielossupressora, CID (Coagulação Intravascular Disseminada) excessivamente compensada e hemorragia aguda de tumores.
Trombocitopenia
Esta é a principal causa dos distúrbios hemostáticos em cães e gatos, de acordo com o estudo do Centro Universitário CESMAC². Segundo o levantamento bibliográfico, as trombocitopenias podem ocorrer por uma produção diminuída das plaquetas (relacionada a problemas que envolvem a medula óssea), sequestro anormal das plaquetas que ocorrem por hipotermia, neoplasia, perdas de sangue, transfusão sanguínea ou em casos de esplenomegalia e hepatomegalia. Ainda segundo o estudo, é muito comum em cães infectados com Erlichia canis, Anaplasma platys e hemoparasitos.
Como destaca a tese da USP⁴, a esplenomegalia diz respeito ao aumento do baço de cães, gatos, aves e roedores. Devido à prevalência de coagulação intravascular disseminada nesses casos, é recomendável a realização do perfil de coagulação e a contagem de plaquetas, que costumam ser encontradas em menor número em animais que apresentam esse quadro clínico.
Já a hepatomegalia significa aumento do fígado, que é o principal órgão de síntese de proteínas pró-coagulantes e anticoagulantes. Doenças hepáticas, podem levar tanto a inibição da produção da fibrina quanto à inibição da função plaquetária.
Trombose
O levantamento da UFRGS³ destaca que são diversas as situações que podem resultar em trombose ou tromboembolismo: estase sanguínea, ativação da coagulação intravascular em uma área do endotélio anormal ou lesado, atividade diminuída dos anticoagulantes naturais e fibrinólise diminuída ou prejudicada. A trombose pode estar clinicamente associada à miocardiopatia, que implica em alterações cardíacas que que são acompanhadas de disfunções do sistema de coagulação e predispõem a formação de trombos. Outra condição é ao hiperadrenocorticismo ou Síndrome de Cushing, que causa altas concentrações de do hormônio cortisol na circulação, contribuindo para a formação dos trombos. A anemia hemolítica imunomediada (AHIM) também é uma doença com indicidência de trombose em animais de pequeno porte⁵. Cães e gatos com alto risco de trombose ou tromboembolismo devem receber anticoagulantes.
Vasculite
A vasculite é a vasculopatia hemorrágica mais comum em cães e gatos² e está associada, geralmente, a processos infecciosos ou inflamatórios. A doença pode estar relacionada também à trombocitopenia de intensidade variável e é responsável pelos estados de trombose e hipercoagulabilidade, que ocorre pela ativação de plaquetas de forma excessiva e da cascata de coagulação por haver exposição das substâncias pró-coagulantes e pela alteração do fluxo sanguíneo normal.
Doença de Von Willebrand (DvW)
Trata-se de uma doença congênita que atinge alguns gatos e cerca de 50 raças puras e mistas de cachorros, como Dobermann, Terrier escocês e Old English Sheepdog. De acordo com o estudo, a doença resulta de uma deficiência do FvW, uma glicoproteína complexa envolvida na adesão das plaquetas ao vaso sanguíneo lesionado, evento inicial da hemostasia primária. Quanto menor for a concentração de FvW, maior será a probabilidade de causar hemorragia. Alguns dos sintomas são sangramento longo, plaquetas diminuídas um baixo nível da proteína fator VIII.
As hemorragias são as principais complicações da DvW² e, dependendo do local e da intensidade, podem levar a anemias graves, comprometimento de sistemas urinário ou do sistema nervoso central, entre outras complicações.
Soluções point of care (POC) para distúrbios da coagulação na Medicina Veterinária
Fabricante de equipamentos e soluções para o setor de diagnósticos humanos e veterinários, a Celer Biotecnologia oferece desde o ano passado duas linhas de produtos para animais de estimação: o Analisador Óptico de Coagulação e o Analisador de Bioquímica Seca. Os dois produtos têm sido aliados de médicos veterinários no diagnóstico de doenças relacionadas ao sangue e a à coagulação.
Por meio da tecnologia point of care (POC), o Analisador Óptico de Coagulação realiza testes com liberação de resultados em cerca de cinco minutos. A partir de amostras de sangue total venoso citratado, o equipamento é capaz de realizar testes de fibrinogênio (FIB), Tempo de Protrombina (TP), Tempo de Coagulação Ativada (TCA), Tempo de Trombina (TT) e Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa).
O Analisador de Bioquímica Seca utiliza outra metodologia — a colorimetria fotoelétrica. A partir de amostras de sangue total, soro, plasma e urina dos animais, o equipamento realiza testes de função renal, hepática e enzimas cardíacas.
O Analisador Óptico de Coagulação e o Analisador de Bioquímica Seca foram desenvolvidos com o objetivo de transformar as rotinas de urgência e emergência na área veterinária mais ágeis e dinâmicas. Os hospitais, clínicas, laboratórios e profissionais independentes que queiram conhecer mais sobre os produtos e soluções em diagnóstico veterinário da Celer podem falar com a equipe comercial pelo telefone (31) 3413-0814 ou por meio de nossa página de Contato.
Referências:
⁴ CAMPOS, A. G. Esplenomegalias em cães: estudo retrospectivo e análise imunohistoquímica do Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF). Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10137/tde-01022012-111310/publico/Andressa_Gianotti_Campos.pdf>. Acesso em 29 abr. 2021.
³ DALMOLIN, Magnus Larruscaim. Distúrbios da hemostasia em cães e gatos. Disponível em: < https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/38784>. Acesso em 26 abr 2021.
¹LOPES, S. T. A. et al. Valores de referência do tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) em cães. In: Cienc. Rural [online]. 2005, vol.35, n.2, pp.381-384. ISSN 1678-96. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-84782005000200021>. Acesso em: 23 abr 2021.
⁵ MORAES, F. L. et al. Avaliação das alterações hemostáticas e do risco tromboembólico em cães com AHIM. Pesq. Vet. Bras. vol.36 no.5 Rio de Janeiro May 2016. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-736X2016000500009>. Acesso em: 30 abr 2021.
² SILVA, A. M. Distúrbios hemostáticos na clínica de cães e gatos: como reconhecê-los e o que solicitar para avaliação laboratorial – revisão de literatura. Disponível em: < https://ri.cesmac.edu.br/handle/tede/229 >. Acesso em 23 abr 2021.