A sepse continua sendo uma das principais causas de mortalidade hospitalar no mundo. Trata-se de uma síndrome complexa caracterizada por uma resposta inflamatória sistêmica desregulada a uma infecção, que pode evoluir rapidamente para disfunção orgânica múltipla e morte, se não tratada prontamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 11 milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência da sepse, o que corresponde a aproximadamente 1 em cada 5 mortes globais.
Diante da gravidade dessa condição, o diagnóstico precoce é essencial. Quanto mais cedo for feita a identificação e o início do tratamento adequado, maiores são as chances de sobrevivência do paciente. Nesse contexto, os marcadores inflamatórios rápidos, como a proteína C-reativa (PCR) e a interleucina-6 (IL-6), têm ganhado espaço como ferramentas fundamentais no manejo clínico da sepse, especialmente com a incorporação da tecnologia Point of Care Testing (POCT).
Outro biomarcador que merece destaque no contexto do diagnóstico e manejo da sepse é a procalcitonina (PCT). Trata-se de um peptídeo precursor da calcitonina, cuja concentração no sangue aumenta significativamente em resposta a infecções bacterianas sistêmicas, mas permanece baixa em processos inflamatórios não infecciosos ou de origem viral.
Entendendo a função da PCR no contexto inflamatório
A proteína C-reativa é um dos biomarcadores inflamatórios mais amplamente utilizados na prática clínica. Produzida principalmente pelo fígado em resposta à interleucina-6, a PCR é uma proteína de fase aguda que aumenta significativamente na presença de inflamação aguda ou infecção. Em indivíduos saudáveis, seus níveis são geralmente baixos (menores que 10 mg/L), mas podem ultrapassar 100 mg/L em casos de infecção bacteriana grave.
O aumento da PCR ocorre de 4 a 6 horas após o estímulo inflamatório, atingindo seu pico em torno de 24 a 48 horas. Essa característica torna o exame de PCR um importante aliado para triagem e monitoramento da resposta inflamatória. Embora não seja específico para sepse, níveis persistentemente elevados de PCR são indicativos de infecção grave e falha terapêutica, o que justifica sua relevância no acompanhamento de pacientes sépticos.
O valor preditivo da IL-6 na sepse precoce
A interleucina-6, por sua vez, é uma citocina pró-inflamatória liberada precocemente por macrófagos, células T e células endoteliais, em resposta à presença de patógenos ou lesão tecidual. Diferentemente da PCR, que é um marcador indireto de inflamação, a IL-6 atua diretamente na mediação da resposta inflamatória, sendo uma das primeiras moléculas a se elevar durante o processo infeccioso.
Seu aumento pode ser detectado em poucas horas, muitas vezes antes do aparecimento de sinais clínicos significativos ou de alterações laboratoriais convencionais. Isso confere à IL-6 um valor diagnóstico precoce muito superior, permitindo intervenções clínicas em estágios iniciais da sepse, quando ainda é possível evitar a evolução para quadros mais graves, como o choque séptico.
O uso combinado de PCR e IL-6 no contexto da sepse permite uma avaliação mais abrangente e precisa do estado inflamatório do paciente. Enquanto a IL-6 oferece uma janela diagnóstica mais precoce, a PCR auxilia no monitoramento da resposta ao tratamento e na tomada de decisões terapêuticas subsequentes.
Especificidade para infecção bacteriana
A principal vantagem da PCT em relação à PCR e à IL-6 está na sua especificidade para infecção bacteriana, o que a torna particularmente útil na diferenciação entre causas infecciosas e não infecciosas da resposta inflamatória sistêmica. Estudos demonstram que a procalcitonina é um excelente marcador para orientar a decisão de iniciar ou interromper o uso de antibióticos, contribuindo para o combate à resistência antimicrobiana.
Além disso, a cinética da PCT permite o acompanhamento da evolução clínica do paciente, já que seus níveis se correlacionam com a gravidade da infecção e respondem rapidamente às intervenções terapêuticas. Integrada aos testes rápidos (POCT), a procalcitonina amplia ainda mais o poder diagnóstico à beira-leito, sendo uma ferramenta estratégica em protocolos de sepse em emergências e UTIs.
Vantagens do uso de POCT na rotina clínica
A tecnologia Point of Care Testing (POCT) tem desempenhado um papel crucial na incorporação desses biomarcadores à rotina clínica. Trata-se de dispositivos portáteis que permitem a realização de exames laboratoriais no próprio local de atendimento ao paciente, com resultados em poucos minutos.
No contexto da sepse, a velocidade do diagnóstico pode significar a diferença entre a vida e a morte. Estudos demonstram que cada hora de atraso no início da terapia antimicrobiana aumenta em até 8% o risco de mortalidade do paciente séptico. A capacidade de obter resultados imediatos com POCT revoluciona o manejo clínico ao eliminar a espera por exames laboratoriais centralizados, agilizando o início das medidas terapêuticas.
Aplicações em UTIs, emergências e regiões remotas
A Celer Biotecnologia oferece soluções POCT voltadas para o diagnóstico rápido de condições críticas como a sepse. Entre os destaques estão os analisadores Finecare, que realizam testes quantitativos de PCR, PCT e IL-6 em poucos minutos, com alta precisão e reprodutibilidade.
Essa tecnologia é especialmente útil em unidades de pronto atendimento, salas de emergência, UTIs e até em contextos de atenção primária em regiões remotas, onde o acesso a laboratórios tradicionais é limitado. A descentralização do diagnóstico, proporcionada pela POCT, representa um avanço significativo na democratização da saúde e na ampliação do acesso a cuidados de alta qualidade.
Abordagem combinada de biomarcadores
Embora nenhum marcador isolado consiga diagnosticar sepse com 100% de sensibilidade e especificidade, a combinação de IL-6, PCT e PCR se mostra altamente promissora. A IL-6 é especialmente útil nas primeiras horas de evolução clínica, a PCT faz o diagnóstico diferencial para infecções bacterianas e a PCR acompanha a resposta ao tratamento, ajudando a determinar se os antibióticos estão sendo eficazes.
Essa abordagem integrada, aliada à POCT, oferece aos profissionais de saúde uma ferramenta poderosa para diagnosticar e tratar a sepse de maneira mais assertiva e ágil, mesmo fora dos grandes centros urbanos.
Redução de internações e tempo de permanência
A utilização de marcadores inflamatórios rápidos também tem implicações importantes na gestão de recursos hospitalares. Ao permitir diagnósticos mais precisos e rápidos, é possível evitar internações desnecessárias, reduzir o tempo de permanência hospitalar e otimizar o uso de antibióticos, contribuindo para a contenção da resistência bacteriana.
Além disso, a detecção precoce da sepse evita complicações que demandam terapias intensivas, o que se traduz em economia direta para os sistemas de saúde.
Otimização de antibióticos e controle de custos
Mesmo que o custo unitário dos testes de IL-6, PCT e PCR seja superior ao dos exames laboratoriais convencionais, o balanço custo-benefício é amplamente favorável quando se considera a redução de morbimortalidade, os menores índices de internação prolongada e o uso racional de medicamentos.
Outro fator a favor da adoção de marcadores rápidos é a simplicidade operacional dos dispositivos POCT. Muitos desses equipamentos exigem apenas uma pequena amostra de sangue capilar, não necessitando de profissionais altamente especializados para sua operação. Isso facilita sua implementação em diversos níveis de atenção à saúde.
Aplicação clínica
Nos últimos anos, a literatura científica tem enfatizado cada vez mais o papel dos biomarcadores no diagnóstico e prognóstico da sepse. Em 2016, a definição de sepse foi revisada no consenso internacional Sepsis-3, que passou a priorizar a disfunção orgânica induzida por uma resposta desregulada à infecção. Com isso, cresceu o interesse por ferramentas que permitam uma avaliação objetiva e precoce dessa disfunção.
A IL-6 e a PCR atendem a essa demanda, atuando como sinais laboratoriais mensuráveis da inflamação sistêmica. A incorporação da tecnologia Point of Care Testing potencializa ainda mais seu impacto, ao tornar os exames acessíveis, ágeis e aplicáveis em diferentes contextos clínicos.
Em um cenário onde cada minuto conta, essas ferramentas representam uma revolução silenciosa no cuidado ao paciente crítico, uma revolução que salva vidas todos os dias.
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