O câncer colorretal é uma das principais causas de morte por câncer em todo o mundo, sendo responsável por milhares de óbitos anualmente. No entanto, quando diagnosticado precocemente, as chances de cura podem ultrapassar 90%. Nesse contexto, o teste de sangue oculto nas fezes (SOF) surge como uma ferramenta poderosa, simples e acessível para rastreamento e diagnóstico inicial da doença. Mas como exatamente esse teste funciona? Quem deve fazê-lo? E por que ele é tão importante?
Este artigo aprofunda o funcionamento do teste SOF, seus tipos, sua relação com o câncer colorretal, vantagens, limitações e o papel que ele desempenha na promoção da saúde pública.
O que é o sangue oculto nas fezes?
“Sangue oculto” refere-se a pequenas quantidades de sangue presentes nas fezes, mas invisíveis a olho nu. Esse sangramento pode ser resultado de diversas condições, como hemorroidas, fissuras anais, doenças inflamatórias intestinais, pólipos ou, mais seriamente, câncer colorretal.
O teste de sangue oculto nas fezes é, portanto, um exame laboratorial que busca identificar a presença de sangue nas amostras fecais. Ele é especialmente valioso como exame de rastreamento, ou seja, para identificar possíveis sinais de câncer em pessoas que não apresentam sintomas.
Por que o câncer colorretal é silencioso?
O câncer colorretal (CCR) costuma se desenvolver lentamente, a partir de pólipos adenomatosos — lesões benignas que, ao longo dos anos, podem sofrer mutações e se tornar malignas. O grande problema é que esse processo geralmente é assintomático nas fases iniciais. Quando os sintomas surgem — como dor abdominal, sangramento visível, perda de peso e alterações intestinais —, o tumor já pode estar em estágio avançado.
É por isso que o rastreamento precoce é essencial, mesmo em pessoas aparentemente saudáveis. O SOF permite a detecção de pequenas quantidades de sangue que podem ser causadas pela presença de pólipos ou tumores iniciais, antes que qualquer sintoma seja percebido.
Tipos de testes de sangue oculto nas fezes
Existem dois principais tipos de testes SOF:
1. Teste Guaiaco (gFOBT – guaiac fecal occult blood test)
Esse é o tipo mais tradicional e utiliza a substância química guaiaco, que reage com o ferro da hemoglobina do sangue. Quando há presença de sangue, ocorre uma mudança de cor (normalmente azul).
Características:
– Exige restrições alimentares (evitar carne vermelha, certos vegetais e medicamentos antes da coleta);
– Requer coleta de múltiplas amostras;
– Pode apresentar falsos positivos por interferência de alimentos ou medicamentos;
– É mais barato, mas menos específico.
2. Teste Imunoquímico (iFOBT ou FIT – fecal immunochemical test)
Esse teste utiliza anticorpos específicos que reagem com a hemoglobina humana.
Características:
– Não exige restrições alimentares;
– Mais sensível e específico para sangue humano;
– Requer normalmente apenas uma amostra;
– É o método mais recomendado atualmente para programas de rastreamento.
Como o teste é realizado?
A coleta é simples e pode ser feita pelo próprio paciente, em casa, com o auxílio de um kit fornecido pelo laboratório ou sistema de saúde.
Etapas gerais:
- O paciente recebe o kit coletor com instruções;
2. Durante a evacuação, uma pequena amostra de fezes é coletada usando uma haste ou espátula;
3. A amostra é colocada no frasco de coleta e armazenada de acordo com as orientações;
4. O material é enviado ao laboratório para análise;
5. O resultado pode sair em algumas horas até poucos dias, dependendo do método utilizado.
Quando fazer o teste?
O teste de sangue oculto nas fezes é indicado para pessoas a partir dos 50 anos, mesmo sem sintomas. Em casos de histórico familiar de câncer colorretal, doenças intestinais crônicas ou outros fatores de risco, o rastreamento pode começar mais cedo.
Recomendações gerais:
– Pessoas de 50 a 75 anos: fazer o teste anualmente;
– Com histórico familiar de CCR: rastreamento mais precoce, conforme orientação médica;
– Após resultado positivo: é obrigatória a realização de exames complementares, especialmente a colonoscopia.
Vantagens do teste SOF
O teste de sangue oculto nas fezes apresenta várias vantagens, especialmente para uso em larga escala:
– Não invasivo: sem necessidade de preparo intestinal ou sedação;
– Fácil de realizar: feito em casa, sem desconforto;
– Custo acessível: ideal para campanhas de saúde pública;
– Alta aplicabilidade: adequado para grandes populações;
– Capacidade de salvar vidas: detecta cânceres em estágio inicial.
Além disso, tecnologias Point of Care (POCT), como o teste oferecido pela Celer Biotecnologia, tornam os testes ainda mais rápidos, confiáveis e acessíveis.
Limitações do teste
Apesar das suas vantagens, o SOF possui limitações importantes:
– Falsos negativos: nem todos os cânceres sangram constantemente;
– Falsos positivos: sangue pode ter origem em outras condições benignas;
– Não substitui a colonoscopia: é apenas um teste de triagem, não de diagnóstico definitivo;
– Não detecta pólipos que não sangram.
Por isso, um resultado negativo não exclui totalmente a presença de câncer, especialmente se houver sintomas ou fatores de risco. E um resultado positivo deve ser sempre seguido de investigação adicional.
O papel do SOF na saúde pública
O teste de sangue oculto nas fezes tem se mostrado uma das ferramentas mais eficazes em programas nacionais de rastreamento de câncer colorretal. Países como Reino Unido, Canadá e Austrália têm programas estruturados que usam o FIT como teste inicial para milhões de cidadãos.
No Brasil, embora o exame esteja disponível no SUS, a cobertura ainda é limitada. Ampliar o acesso a esse tipo de rastreamento, especialmente com tecnologias POCT, pode ter um impacto direto na redução da mortalidade por câncer colorretal.
Mês de conscientização
O teste de sangue oculto nas fezes é um dos exames mais importantes na prevenção e detecção precoce do câncer colorretal. Simples, acessível e eficaz, ele permite salvar vidas ao identificar sinais iniciais de alterações malignas no intestino grosso.
Entretanto, seu uso precisa ser parte de uma estratégia ampla de rastreamento, que envolva educação da população, acesso a exames complementares (como colonoscopia) e investimento em tecnologias que tornem o diagnóstico mais rápido e confiável.
Ao integrar inovações como o POCT — tecnologia oferecida por empresas como a Celer Biotecnologia — o Brasil tem a oportunidade de democratizar o acesso à saúde preventiva, melhorar a eficiência do sistema e, acima de tudo, aumentar a chance de sobrevivência dos pacientes com câncer colorretal.